terça-feira, 21 de outubro de 2014

Antipetismo é fortalecido por mídia e desinformação política

O discurso de ódio contra o Partido dos Trabalhadores tem levado a campanha eleitoral de 2014 a um outro nível. Na contramão do debate pautado em ideias e propostas, casos de agressões verbais e físicas contra militantes figuram nas ruas e nas redes sociais. “Nunca vi um ódio disseminado, por um partido político, como o ódio que eu vejo pelo PT”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro realizado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, na última segunda-feira (20).
De acordo com a mestra em Direito e professora de Direitos Humanos da Universidade Católica de Brasília, Marili Quadros, o “antipetismo” é, em sua origem, um movimento de insatisfação com a ideologia de esquerda, defendida pelo partido. “O ódio vem num movimento de repulsa em relação ao próprio desenvolvimento das ideologias de um partido de esquerda no governo, que pressupõe uma sociedade com uma maior igualdade e isso significa uma melhor divisão de renda”, analisa.
Segundo a professora, mesmo com o crescimento de manifestações populares, como as ocorridas em julho de 2013, a discussão acerca da política, no país, ainda é defasada e manipulada pelos veículos tradicionais da mídia. “Quem fala de política há séculos no Brasil é a mídia, e há uma tendência a se falar em política repetindo o que ela significa para este setor, sem reflexões. Sem saber muito explicar o porquê, as pessoas divulgam esse ódio explícito”, explica.
Na terça-feira (14), o blogueiro Enio Barroso Filho, de São Paulo, sofreu uma agressão covarde, em uma rua da capital paulista, por estar com adesivos da campanha de Dilma Rousseff na roupa. Detalhe: Enio é cadeirante, pois sofre de uma enfermidade física progressiva. Segundo ele, três homens desceram de um carro e tentaram derrubá-lo no chão. Foi salvo por uma transeunte que ameaçou chamar a polícia.
Em Abel Figueiredo, no Pará, um militante do PT foi morto a tiros na segunda-feira (22), em um assentamento de trabalhadores sem terra. Razão: tentou impedir a ação de capangas de fazendeiros locais contra trabalhadores da prefeitura que terraplenavam uma estrada para ônibus escolares.
Imprensa comprometida – Para o jornalista Luis Nassif, editor do site Nassif On Line, a campanha do ódio contra o PT é antiga e motivada por uma resistência à inclusão social promovida pelos governos do partido. Essa ação, diz, desagrada a classe média estabelecida e setores da mídia tradicional. “O mercado de opinião da mídia fomenta os discursos de ódio e cria imagens negativas contra os adversários. O ódio é uma ferramenta para influenciar”, afirma.
O jornalista defende a regulamentação da mídia e acredita que o Brasil está atrasado nesta experiência, realizada em países europeus e nos Estados Unidos. “O mundo inteiro está fazendo isso. Nós temos que estabelecer uma lei de meios”, diz.
Combate ao ódio – O aposentado Flávio Soares, 62 anos, dedica-se há 30 à militância no PT. Para ele, a campanha de ódio contra o partido deve ser combatida com o amor. “Precisamos ver o lado avesso desse ódio”, defende.
Segundo soares, ações negativas contra o partido foram nutridas ao longo do tempo por ideologias conservadoras. O desafio, diz o militante, é mostrar que valores como este não podem prevalecer em uma sociedade com desejo de evolução e valores humanos fortes. “Não tem como combater isso sem mostrar que estamos evoluindo, beneficiando todo mundo. A sociedade que avança e não segrega é a mais correta”, afirma.
A violência do discurso de ódio contra o PT ainda é uma realidade diária, segundo o militante. Ele relata que, na semana passada, durante uma caminhada com a bandeira do partido no Eixo Sul de Brasília, chegou a ser abordado por dois homens que o agrediram verbalmente. “Os dois sujeitos vieram dizendo ‘enfia essa bandeira, vai para a merda’, assim, de graça”, relata.

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